Ao ouvir falar em iniciação científica (IC), a maioria das pessoas remete à ideia de pesquisa na universidade, o que não é errado. Porém, o que poucas pessoas se lembram ou sabem é sobre a possibilidade de realizar e orientar uma iniciação científica com bolsa em escolas públicas de ensino médio no Brasil.
Essas oportunidades costumam acontecer com a intenção de despertar a vocação científica de jovens talentos. Embora existam projetos privados com a intenção similar, também é possível participar de projetos como o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica para o Ensino Médio (PIBIC-EM) ou ainda outros em parceria com as Fundações de Amparo à Pesquisa (FAP’s) de cada estado. Divulgar essas iniciativas é o foco do texto de hoje.
Caso queira saber mais sobre a iniciação científica na graduação, recomendo que leia este texto, mas se você quer saber um pouco mais como participar ou como colaborar com essa iniciativa importante para a formação de jovens talentos da rede pública do ensino médio, puxe a cadeira e vamos entender juntos o que é a modalidade.
PIBIC-EM: A iniciação científica no Ensino Médio
Assim como a pesquisa na graduação, segundo o site oficial do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) do Brasil, o PIBIC-EM tem como objetivo fortalecer processos que disseminem conhecimentos científicos entre os jovens a fim de desenvolver “atitudes, habilidades e valores necessários à educação científica e tecnológica”.
Isso significa que a intenção não se restringe em apenas mostrar como a ciência pode ser uma carreira a ser seguida, mas também possibilitar aos bolsistas um processo de autodescoberta sobre suas habilidades e áreas de interesse. Ou seja, a Iniciação Científica Júnior também pode ser um caminho para os alunos descobrirem que cursos e faculdades pretendem prestar, investindo em profissões e campos que lhes chamam mais atenção, o que pode até diminuir a evasão universitária em uma proposta de larga escala no futuro.
Sobre a história do programa, o Observatório Juventude C&T da Fiocruz, no Rio de Janeiro relata que a primeira experiência no Brasil em envolver alunos de ensino médio nas atividades científicas foi mobilizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em 1986, com o Programa de Vocação Científica (PROVOC).
O sucesso desse projeto foi tão grande que motivou a Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro (FAPERJ) a criar um projeto similar chamado Jovens Talentos de “pré-iniciação científica” em 1999, com abrangência apenas no estado fluminense. A experiência ofertada pela FAPERJ termina com “Jornadas Científicas”, assim, os adolescentes têm uma vivência mais completa, como a exposição e debate de seu trabalho em um encontro acadêmico.
Muitas outras FAP’s se engajaram na proposta e estabeleceram convênios com empresas e instituições de pesquisas para oferecer a oportunidade de iniciação científica no ensino médio, tendo como apoio o CNPq que institucionalizou o Programa de Iniciação Científica Júnior (IC-Jr) com bolsa.
O projeto se ampliou e em 2010 o CNPq lançou o PIBIC-EM, sendo possível que universidades e institutos de pesquisa tenham suas cotas para oferecer bolsas em projetos que envolvam alunos de ensino médio, fomentadas diretamente pelo programa.
Atualmente o valor da bolsa de iniciação científica para estudantes de ensino médio está na faixa de R$ 100,00 com duração de 12 meses, sem férias, e com possibilidade de renovar por mais 12 meses com o mesmo orientador e pesquisador.
Essas cotas PIBIC-EM existem porque, segundo o CNPq, as bolsas são oferecidas apenas para instituições, centros de pesquisa ou universidades que já tenham parceria com o PIBIC para alunos de graduação.
Outros requisitos exigidos para que a instituição de pesquisa seja parceria nesse projeto é que ela mantenha infra-estrutura adequada para as atividades propostas e que disponibilize transporte e alimentação aos bolsistas nos dias de monitoria. A carga horária mínima de IC para ensino médio é de 8h semanais com orientação.
O CNPq ainda destaca que é obrigação da instituição que participa do evento incentivar os bolsistas de ensino médio a apresentarem suas pesquisas e atividades de forma oral e/ou pôster, além de se responsabilizar por suas integridades físicas e mentais durante as atividades.
Segundo reportagem da Pesquisa FAPESP sobre experiência em iniciação científica no ensino médio, o docente da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Mário Fernando de Góes justificou a importância dessas experiências em seu relato:
“No começo, o aluno chega tímido, mas ao longo do ano isso muda, e, quando apresenta o pôster com os resultados do projeto, há uma transformação da qualidade de vida.” – Mário Fernando de Góes (Unicamp) para o Pesquisa FAPESP
Os processos seletivos dos projetos e alunos bolsistas fica a cargo de cada instituição, desde que siga critérios pré-estabelecidos pelo CNPq para manter um padrão de seleção no programa.
Como orientar um projeto de IC para ensino médio?
Antes de mais nada, é necessário ver se a instituição onde está vinculado mantém parcerias com alguma agência fomentadora de iniciação científica para ensino médio.
Da mesma forma, é necessário conferir se atende aos requisitos exigidos, por exemplo, no site do PIBIC-EM é claro que o orientador deve manter um vínculo formal com a instituição de pesquisa ou ensino superior. No entanto, nos editais das três estaduais paulistas também se exige que o orientador tenha titulação de doutor.
Confira a seguir os requisitos básicos, segundo o CNPq, e confira as possibilidades na sua instituição:
- Ter vínculo formal com instituição de ensino superior e/ou pesquisa;
- Possuir no mínimo o título de mestre ou perfil científico equivalente e demonstrar experiência em atividades de pesquisa, cultural, artística, ou em desenvolvimento tecnológico;
- Ter produção profissional divulgada em revistas especializadas, livros, capítulo de livros, anais de encontros científicos, exposições, etc;
- Adotar todas as providências que envolvam permissões e autorizações especiais de caráter ético ou legal, necessárias para a execução das atividades;
- Ter currículo atualizado na Plataforma Lattes.
O programa ainda exige que o pesquisador-orientar siga os seguintes compromissos em contrato pela parceria do projeto:
- Orientar o bolsista nas distintas fases da atividade incluindo a elaboração de relatórios e material para apresentação dos resultados;
- Acompanhar e estimular a apresentação dos resultados parciais e finais pelo bolsista nos eventos de iniciação científica e tecnológica promovidos pela instituição/local de execução das atividades;
- Avaliar o desempenho do bolsista ao final de sua participação;
- Comunicar quaisquer situações adversas à entidade parceira.
Em muitos editais, algumas universidades parceiras do PIBIC-EM solicitam que o pesquisador candidato a orientador submeta um projeto apontando o número de bolsistas, enquanto outras faculdades já estabelecem qual é o número mínimo de bolsistas por projeto.
Caso tenha interesse, confira o processo em sua instituição para poder orientar projetos de iniciação científica no ensino médio nas escolas públicas e abrir novos caminhos para diversos adolescentes.
Como ser um bolsista de IC no ensino médio?
Primeiro, é necessário ver se o município ou região onde você reside tem algum programa de iniciação científica. Se houver alguma instituição que participa de algum programa, confira se a universidade recruta os alunos ou se a escola onde você estuda que deve indicar os alunos.
Caso a parceria seja fomentada pelo PIBIC-EM, confira os seguintes requisitos exigidos para ser um aluno bolsista de iniciação científica no ensino médio:
- Estar regularmente matriculado no médio ou profissional de escolas públicas;
- Estar desvinculado do mercado de trabalho;
- Possuir frequência igual ou superior a 80% (oitenta por cento);
- Apresentar histórico escolar.
Também se exige o compromisso do aluno nos seguintes aspectos:
- Executar o plano de atividades com dedicação mínima de oito horas semanais;
- Elaborar relatório de suas atividades semestralmente, e ao final de sua participação;
- Apresentar os resultados parciais e finais da atividade, sob a forma de painel ou exposição oral, acompanhados de relatório, nos encontros de iniciação científica e tecnológica promovidos pela instituição;
- Estar matriculado em escola pública de nível médio ou profissional;
- Permanecer desvinculado do mercado de trabalho dentro do período de concessão da bolsa.
Para lhe ajudar nessa nova jornada, vamos deixar aqui um mapa elaborado pela Fiocruz indicando POR ESTADOS todos os Programas de Iniciação Científica na educação básica do Brasil.
Se ainda estiver em dúvida se deseja orientar ou participar, confira o vídeo elaborado pela Fiocruz sobre o projeto PROVOC com depoimentos de pesquisadores e bolsistas de ensino médio.
Outros projetos científicos focados no Ensino Médio:
Existem vários projetos que acabam atingindo o público de ensino médio, como os de divulgação científica em feiras e museus. Mas além da Iniciação Científica Júnior em parcerias com as FAP’s e CNPq, também existem outros projetos para orientar e engajar jovens pesquisadores.
Um desses é o Programa de Iniciação Científica da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (PIC-OBMEP), também fomentado pelo CNPq e que busca continuar incentivando o estudo e pesquisa em alunos medalhistas da olimpíada brasileira.
O programa atende todo o Brasil com bolsas de Iniciação Científica Júnior, desde que o bolsista seja premiado na Olimpíada Brasileira de Matemática. Instituições que desejam ser parceiras devem entrar em contato com o Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) que desenvolve o projeto em parceria com o CNPq.
Além dos projetos públicos, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico ainda destaca que existem bolsas em parcerias com empresas de pequeno e médio porte nas modalidades de Iniciação Científica e Industrial e de Iniciação Tecnológica. Mais informações no site oficial da entidade.
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