A Marcha pela Ciência (ou March for Science) é um movimento internacional em prol da valorização da ciência pelas entidades políticas, sendo que a 1ª Marcha pela Ciência tomou lugar em 610 cidades pelo mundo no dia 22 de abril de 2017, segundo o site oficial.
A 1ª Marcha pela Ciência de 2017 foi inicialmente mobilizada nos Estados Unidos devido à posse do presidente americano Donald Trump, que trouxe cortes orçamentários para Ciência e Tecnologia (C&T) do país, além do ceticismo frente às pesquisas científicas, como a mudança climática. Mas ela se espalhou em diferentes países que levantaram bandeiras em defesa de pautas específicas, o mesmo se deu nos 25 municípios brasileiros que participaram do movimento, onde em cada cidade a Marcha abraçou temas locais importantes também.
Segundo a organização das Marchas brasileiras em entrevistas ao podcast Oxigênio da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o movimento teve demandas próximas das Marchas americanas que buscam a valorização e investimento adequado da ciência tanto por parte do Estado, quanto por parte das organizações privadas. Outra preocupação das manifestações brasileiras é que a população possa ter mais contato com o que é desenvolvido e investigado no país, expectativa exemplificada na feira científica da 1ª Marcha pela Ciência de São Paulo, que atraiu um público bem diverso, incluindo crianças.
Entre as preocupações manifestadas na Marcha brasileira, uma das principais é o corte de 44% no orçamento de 2017 que o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações (MCTIC), antigos Ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação que se fundiu com o Ministério das Comunicações este ano, ações que exemplificam a desvalorização da ciência no país. Em números, esse corte significa que dos R$ 5,8 bilhões investidos antes para o desenvolvimento científico e tecnológico do Brasil, restam apenas R$ 3,2 bilhões em que R$ 700 milhões são para Comunicações e somente R$ 2,5 bilhões para C&T.
Esse é o menor valor disponibilizado para a pasta nos últimos 12 anos, o que pode intensificar o êxodo de cérebros brasileiros e desestimular a formação de novos pesquisadores, além de congelar pesquisas que, muitas vezes, ao ser parada será forçada a se encerrar, visto que experimentos e processos podem não resistir a pausa, conforme argumenta (em diversas entrevistas como da BBC e do Fantástico) o físico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e presidente da Academia Brasileira de Ciência (ABC), Luiz Davidovich, entre outros pesquisadores.
O pesquisador também afirma que em momentos de crise que se deve investir mais em ciência, tecnologia e inovação e não o contrário, já que as pesquisas podem encontrar caminhos inusitados. No entanto, com a falta de investimento, é possível um grande atraso da ciência brasileira diante do que se é investido em outros países, sendo que antes do corte de 44% de 2017, um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) identificou que o Brasil investia muito menos em Ciência e Tecnologia do que outros países
Caso você queira saber mais sobre os cortes, acesse ao site Conhecimento Sem Cortes onde há na home um tesourômetro apontando quanto o governo federal já cortou nos investimentos de C&T no país desde 2015, além de poder assinar uma petição contra o desmonte das universidades públicas e das pesquisas brasileiras (Petição aqui).
Para dar mais visibilidade ao descaso orçamentário em C&T no Brasil, no dia 02 de setembro de 2017 aconteceu a 2ª Marcha pela Ciência motivada, principalmente, pela campanha do Conhecimento Sem Cortes no Rio de Janeiro (RJ), mas que se espalhou em outras capitais como São Paulo (SP), Brasília (DF), São Luís (MA) e Porto Alegre (RS) (confira a repercussão aqui).
A situação é crítica e por isso cada cidade está intensificando suas marchas de forma individual. A próxima prevista é em São Paulo no dia 08 de outubro de 2017 com as 3 principais pautas, segundo a descrição do evento:
- Contra os cortes nas ciências – inclusive e principalmente os programados no PLOA 2018 (mas também para reverter os cortes já realizados e reconstituir os níveis de investimentos em C&T e Educação);
- Pela revitalização dos Institutos de Pesquisa do Estado de São Paulo;
- Contra o desmonte das universidades públicas em todo o país.
Sobre o segundo tópico da pauta, é importante destacar que há alguns anos os Institutos de Pesquisa (IPs) do Estado de São Paulo sofrem com cortes de recursos humanos e de investimento em pesquisa, além da desocupação de prédios, como foi o caso do Instituto Geológico (IG) que teve que desocupar sua antiga sede na Água Funda para outro prédio, que necessita de reformas, na Vila Mariana em São Paulo, conforme apontado em matéria de janeiro de 2014 do Estado de S. Paulo.
A situação só se agravou desde 2014. No final de 2016, por exemplo, a Assembleia Estadual de São Paulo aprovou o projeto de lei do governador Geraldo Alckmin em vender 79 áreas públicas paulistas, incluindo 12 dessas que pertencem a Institutos de pesquisa agrícolas, 16 a outros institutos, entre outros; descaso que se agrava cada vez mais, como apontado em matéria da revista Globo Rural de julho de 2017.
O terceiro item que a Marcha pela Ciência protesta é contra a desvalorização das universidades públicas em todo o país. Sobre o tema, já publicamos aqui no blog o caso recente mais grave que envolve a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) com o texto da nossa colunista e linguista da instituição em questão, Darcilia Simões. No texto, ela destaca todas as dificuldades e estado de penúria que a universidade se passa, recomendo o texto para quem quiser entender melhor a grave situação.
- Leia também: UERJ, Odisseia de heróis, RESISTE!
Caso você possa se locomover até a cidade de São Paulo e queira fazer coro contra a crescente desvalorização da ciência brasileira, fica o convite para a 3ª Marcha pela Ciência de São Paulo no dia 08 de outubro de 2017, a partir das 15h em frente ao MASP.
Você também pode colaborar divulgando e mobilizando outras pessoas. Mais informações no evento do Facebook do evento aqui ou no site.
Se você está fora do estado de São Paulo, mas quer acompanhar as Marchas em outras cidades, entre no grupo do Facebook chamado Marcha pela Ciência no Brasil, onde além das novidades sobre as manifestações também há compartilhamentos e debates sobre as pautas levantadas.
Venha se informar, discutir e defender a ciência brasileira também!