A lesão medular é uma condição com significativas manifestações clínicas incapacitantes e permanentes, podendo estar presente desde o nascimento ou ser de origem traumática, decorrente de doenças. Um assunto essencial a ser tratado a respeito dessa incapacidade motora é a qualidade de vida e inserção social, uma vez as sequelas motoras dificultam o dia-a-dia do individuo no contexto da mobilidade urbana e do convívio social.
Continuando a série Pesquisa em Destaque, conversamos com a Patricia Celis Murillio, autora do trabalho “Estudo do desempenho motor e da inserção social do paciente com lesão medular“, apresentado no Congresso Brasileiro de Educação Especial – CBEE em 2014.
A entrevista apresenta o contexto de sua pesquisa a cerca do estudo de caso de um paciente com lesão medular e os aspectos relativos à sua inclusão social, além da trajetória do processo e os resultados, que ampliam a análise realizada pelo estudo.
Confira agora, esta entrevista:
Para começar, gostaria de pedir que você contasse um pouco para nossos leitores sobre sua trajetória profissional e sobre sua pesquisa no contexto da inclusão social.
Sou Fisioterapeuta e atualmente doutoranda em Educação. Minha proximidade com as ciências humanas decorreu do trabalho com a área de neurologia infantil, a qual me despertou o olhar para além do desenvolvimento orgânico, passando a visualizar o desenvolvimento infantil a partir do seu processo cultural e social.
Após anos como fisioterapeuta e professora de neurologia, observei como o plano do desenvolvimento cultural e social se coloca para o desenvolvimento humano e, diante desta perspectiva, o foco de minhas investigações estão atreladas ao movimento a partir do seu contexto cultural-social.
Pode comentar um pouco sobre este trabalho? Qual foi a motivação para a pesquisa, e as principais conclusões?
Este foi um estudo de caso feito com um paciente jovem após lesão medular que teve como causa uma montaria de rodeio mal-sucedida. A motivação da pesquisa estava no fato de ser um paciente jovem, que necessitava se readaptar à vida em sociedade a partir da sua nova condição motora. Assim, fomos compreendendo como a falta da mobilidade pode interferir nas funções sociais do individuo e, portanto, na sua qualidade de vida.
É possível entender que quanto mais severos os prejuízos motores, maior será a dependência de outra pessoa, para os cuidados básicos como as atividades de vida diária e a locomoção, o que leva a uma série de restrições do convívio social, aumentando o isolamento social e, por consequência, as funções sociais. Contudo, este é um processo que decorre de uma série de aparatos como família, amigos, atividades sociais, recursos econômicos, entre outros. No entanto, como a cultura e a sociedade podem prover a reinserção deste individuo dentro de uma nova organização social será o que passa a ter destaque sobre o desenvolvimento, seja ele normal ou atípico.
Você poderia descrever rapidamente como é caracterizada uma lesão modular, e como isso pode afetar o desempenho motor de um individuo?
A lesão medular é um trauma que pode ser decorrente de diferentes causas, como arma de fogo, objetos perfurantes, quedas, mergulhos, acidentes automobilísticos. Estes traumas podem ocorrer com diferentes graus de acometimento, podendo ser classificados com paraplegia (comprometimento dos MMII) e tetraplegia ( comprometimento dos Membros Superiores e Inferiores). De acordo com a classificação da lesão medular do individuo, teremos grau de funções que proporcionarão maior ou menor independência das suas funções básicas como atividades da vida diária e locomoção.
No trabalho você fala sobre o movimento ser emergido da interação entre indivíduo, tarefa e ambiente. Poderia comentar como isso acontece?
O movimento parte do desejo de realizar uma tarefa em um determinado contexto. Quando perdemos funções motoras devemos procurar manter o desejo de realizarmos tarefas agora imbuídas de um ambiente adaptado. Ou seja, o ambiente deve pertencer ao individuo, provendo os instrumentos que atendam à necessidade de interação de todo e qualquer individuo que vive em sociedade.
Como foi realizada a escolha do paciente analisado ao longo da pesquisa?
Paciente paraplégico jovem com lesão medular por objeto perfurante. Este paciente apresentou elementos importantes, como ter uma família cooperativa sendo estimulado a se reabilitar tanto no aspecto físico como no aspecto social, chegando a voltar a estudar, depois de alguns anos, ingressando no curso de Direito.
Como demonstrado no trabalho, um ponto importante na relação de um individuo com lesão medular e a sociedade, é a sua inserção social. Quais os aspectos que a pesquisa procurou considerar para avaliar essa condição de inclusão? Como foram coletados os dados de analise?
A pesquisa parte do pressuposto que a reabilitação na paraplegia não se encontra condicionada às suas sequelas, mas sim em como a nossa sociedade atende às pessoas com algum tipo de anormalidade. Assim o desenvolvimento orgânico e o desenvolvimento cultural precisam se fusionar ao longo da nossa existência.
A coleta de dados foi obtida em sessões de fisioterapia realizadas em um centro de reabilitação.
Como o projeto de pesquisa conclui a associação entre qualidade de vida e a gravidade da lesão e a presença de sequelas motoras e sensoriais?
Sequelas motoras e sensoriais comprometem a nossas funções sociais e também nossa independência locomotora. Assim, a gravidade das sequelas motoras definem o grau de comprometimento motor e, por consequência, o grau de dependência de outra pessoa. Neste sentido, como já foi dito acima, as sequelas motoras levam ao isolamento social e por consequência leva à perda da qualidade de vida.