Pesquisa básica e pesquisa aplicada: o que são e suas importâncias

Para quem acabou de começar ou pretende iniciar sua carreira científica, o universo acadêmico pode parecer um pouco confuso e cheio de regras, além dos termos técnicos que são familiares para os pesquisadores com mais experiência.

Mas não é necessário esperar o tempo passar para compreender alguns termos, por isso que hoje vamos falar sobre as diferenças entre a pesquisa básica e a pesquisa aplicada e quais são suas importâncias para o desenvolvimento da sociedade.

Vamos começar com a pesquisa básica (também chamada de pesquisa fundamental), ela consiste em trabalhos e pesquisas que buscam, principalmente, responder perguntas para ampliar o conhecimento que temos do mundo e tudo o que o forma. De acordo com Antônio Carlos Gil, , em seu livro “Métodos e técnicas de pesquisa social”, a pesquisa científica básica deve ser motivada pela curiosidade e suas descobertas devem ser divulgadas para toda a comunidade, possibilitando assim a transmissão e debate do conhecimento.

Já a pesquisa aplicada tem como objetivo a utilização de toda informação disponível para a criação de novas tecnologias e métodos, transformando a sociedade atual em que vivemos. Esse tipo de pesquisa possui resultados mais palpáveis, muitas vezes percebidos pela população também.

Em alguns casos, muitas teorias levantadas pelas pesquisas básicas demoram para ser aplicadas em soluções práticas. Mesmo assim, elas possuem grande importância para a sociedade, como opina o professor Oswaldo Lopes do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, “a ciência básica é vital para a prosperidade, quer econômica quer social e deve ser cultivada não apenas pela glória do intelecto”.

Uma depende da outra, a pesquisa aplicada não acontece sem os conhecimentos da pesquisa básica, da mesma forma, sem a pesquisa aplicada estagnamos no tempo e não nos desenvolvemos. Isso tudo é parte da mesma cadeia, como colocou a biomédica e ex-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso a Ciência (SBPC), Helena Nader, em entrevista para a Agência Fapesp:

“A pesquisa científica básica é condição para o desenvolvimento. É um elo fundamental de uma cadeia que começa na formação do indivíduo e beneficia a sociedade toda.“ Helena Bonciani Nader, SBPC

Para ilustrar um pouco mais a dependência entre esses dois tipos de pesquisa, o jornalista Fabrício Marques escreveu na matéria publicada em agosto de 2016 na revista Pesquisa FAPESP, sobre a invenção do rádio pelo físico italiano Guglielmo Marconi. O inventor utilizou utilizou pesquisas de diversos cientistas como James Clerk Maxwell, Nikola Tesla e Heinrich Hertz para desenvolver a tecnologia necessária para a invenção do rádio que revolucionou a forma como nos comunicamos hoje.

Outro exemplo é a teoria da relatividade de Einstein, que mais tarde foi utilizada no desenvolvimento do GPS, ou os estudos de Niels Bohr sobre a estrutura do átomo que levou as pesquisas de tecnologias nucleares. Há também as descobertas de Louis Pasteur, considerado pai da microbiologia, suas pesquisas tiveram impactos positivos na indústria alimentícia com a invenção da pasteurização, método que elimina as bactérias de produtos alimentícios permitindo que durem mais.

Levando em consideração a aplicação prática das pesquisas de Pasteur, Donald E. Stokes propõe em seu livro “O quadrante de Pasteur – a ciência básica e a inovação tecnológica” uma nova forma de classificar pesquisas buscando ajudar o constante impasse entre o governo e cientistas na hora de definir o repasse de verbas.

Quadrante de pasteur
Imagem retirada de matéria da revista Pesquisa FAPESP

O quadro de Stokes analisa a relevância de uma pesquisa para o avanço do conhecimento e a sua relevância para aplicações imediatas. Do lado esquerdo estão as pesquisas que contribuem para o conhecimento, sendo que quanto mais para cima, maior sua contribuição. Quanto mais a direita uma pesquisa estiver, maior sua relevância para ser aplicada imediatamente.  

Neste exemplo da revista Fapesp as pesquisas de Bohr são citadas como grandes contribuições para o avanço do conhecimento, enquanto pesquisas que não apresentam explicações sobre fenômenos (como estudos sobre aves) ficam na parte inferior. As pesquisas de Thomas Edison sobre eletricidade possuem muita relevância para aplicações imediatas e os trabalhos de Pasteur contribuem tanto para o avanço do conhecimento ao mesmo tempo que suas aplicações práticas foram imediatas.

Com a concepção desse quadrante, Stokes mostra uma solução para a briga entre governo e ciência está no fortalecimento e investimento em pesquisas fundamentais em campos que buscam solucionar problemas e necessidades da sociedade.

Tanto o investimento na pesquisa básica quanto aplicada são necessários, e no clima de cortes e reduções de verbas para universidades o debate acaba ficando ainda mais intenso. Em época de crise econômica o investimento em pesquisa e desenvolvimento é visto por muitos como “desperdício” quando na verdade é a melhor saída. Foi o que colocou o professor e presidente da Academia Brasileira de Ciência, Luiz Davidovich, em uma entrevista para o portal da BBC:

“Espanta-me que justamente em uma época de crise tão grave, não se dê atenção à porta de saída da crise, já descoberta por outros países há muito tempo. É pesquisa e desenvolvimento, é ciência e inovação tecnológica. Nós estamos indo na contramão dessa consciência internacional […] A China está com crescimento desacelerado, mas ao mesmo tempo está investindo mais em pesquisa. Em plena crise, o primeiro-ministro (Li Keqiang) anuncia que vai aumentar o investimento em pesquisa básica em 26%.” – Profº. Luiz Davidovich, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Apesar de suas diferenças, tanto a pesquisa básica quanto a aplicada são muito importantes e merecem atenção, por isso movimentos como a Marcha pela Ciência são importantes, para que toda a população entenda o que está em risco quando cortes na ciência são realizados sem considerar as consequências a longo prazo.

No blog do Galoá também estamos sempre compartilhando e trazendo discussões sobre a ciência no Brasil e no mundo para ajudar na propagação do conhecimento. Para não perder nenhum acontecimento e se manter informado, assine a nossa newsletter para receber quinzenalmente uma coletânea com as principais notícias do blog.

Sobre o Autor

Fabiano Sant'Ana é o CEO e CVO do Galoá Science. Matemático Aplicado formado na Universidade de Campinas, a mais de uma década Fabiano trabalha diariamente com pesquisadores das mais diversas áreas automatizando tarefas, reduzindo esforços e maximizando o impacto da pesquisa científica brasileira.