Em minha primeira participação como colunista no blog Galoá irei abordar um tema que tem me chamado muito a atenção nestes últimos quatro anos em que vivo em Faro, sul de Portugal: “A importância dos núcleos e associações de estudantes brasileiros no exterior para o desenvolvimento científico e intelectual”.
Um núcleo ou associação de estudantes deve proporcionar diversas atividades, entre as quais destaco as possibilidades para o desenvolvimento científico e intelectual de seus membros. Infelizmente, ainda, acabam sendo poucos os que usufruem disso. É preciso buscar iniciativas que façam com que os estudantes se engajem em atividades que vão ajudá-los a se desenvolver pessoal e profissionalmente.
Assim sendo, vou iniciar a minha participação escrevendo sobre este tema, pois como co-idealizador/fundador do Núcleo de Alunos Brasileiros da Universidade do Algarve (NUBRA), o qual iniciou as suas atividades em setembro de 2013, tenho percebido que os núcleos e associações devem ter a sua responsabilidade na formação científico-intelectual dos estudantes brasileiros que estão no exterior.
Além disso, com base na minha experiência acadêmica, pretendo lhes trazer textos originais, resenhas e ensaios sobre diversos assuntos relacionados tanto com as minhas linhas de pesquisa quanto da ciência como um todo. A minha atuação como revisor de uma dezena de periódicos e a autoria/coautoria de mais de uma centena de trabalhos científicos me trouxeram até o Galoá. Espero poder lhes trazer, mensalmente, assuntos interessantes e que instiguem em você leitor (a) o desejo de mudança, de repensar, de buscar soluções, de construir algo novo e, sempre em uma linguagem de fácil entendimento.
Sobre o tema deste texto, inicio comentando que a busca por novas oportunidades no que se refere a ganhos de conhecimento e experiência (não só a nível acadêmico, mas também pessoal), levou nos últimos anos um número considerável de estudantes a saírem do Brasil para realizar parte ou toda a sua formação universitária no exterior, principalmente, nos Estados Unidos da América e, depois, na Europa.
Nessa formação, universitária, podemos incluir tanto a graduação quanto a pós-graduação em todos os seus níveis (da especialização ao pós-doutorado). Talvez o grande impulso tenha sido por meio do Programa Ciência Sem Fronteiras (CsF), o qual foi criado em 2011 e que distribuiu mais de 100 mil bolsas de estudos. Mais recentemente, a possibilidade de aproveitamento da nota do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) tem levado um número cada vez maior de brasileiros a estudar em universidades ou institutos politécnicos de ensino superior de Portugal.
Não há como negar que a criação do Programa CsF no ano de 2011 levou um enorme contingente de estudantes para o exterior. Por mais que o programa tenha tido alguns problemas de acompanhamento e gestão, entre outros fatores, os primeiros resultados dessa iniciativa já começaram e continuam a surgir. Exemplo disso, foi a criação da Rede Ciência Sem Fronteiras, que por meio de ex-alunos do CsF iniciaram um movimento de aplicação do conhecimento adquirido no exterior, quer por meio de palestras quer através de workshops ou iniciativas que literalmente tem feito com que muitas universidades brasileiras repensem algumas formas de atuação tanto social quanto científica.
Além disso, constantemente temos visto divulgações de pesquisas de ponta e colaborações iniciadas com ex-bolsistas, incluindo-se aí trabalhos publicados em periódicos de alto fator de impacto e de elevada relevância para a sociedade. Talvez o fim, que ao meu ver deverá ser provisório, tenha sido positivo para que os critérios e os métodos de acompanhamento e avaliação sejam repensados. O que deve ficar claro é que entre erros e acertos, o CsF foi e tem, ainda, sido um bom programa de incentivo aos que desejam estudar no exterior.
Já no ano de 2015, nos Estados Unidos da América, surge a Associação de Estudantes Brasileiros no Exterior (BRASA). Atualmente, a BRASA já está em praticamente todos os continentes do globo e cresce a cada dia mais e mais. Entre as atividades desenvolvidas eu gostaria de destacar as conferências anuais, como por exemplo, a BrazUSC e a BRASCON, nas quais nomes importantes dos cenários político, social, econômico e científico compartilham ideias e propostas para um desenvolvimento adequado do Brasil. Além disso, os membros da BRASA constantemente são incentivados a difundir os seus trabalhos em congressos e usufruem de formações e cursos exclusivos com profissionais de destaque em suas áreas.
Tudo isso em prol de uma melhor capacitação desses estudantes. Exemplo disso, é grupo Alumni da BRASA, onde a cada novo evento de networking há um estreitamento maior entre os profissionais envolvidos, permitindo assim com que oportunidades de colaborações e negócios aconteçam ali mesmo, em uma simples e descontraída conversa.
Por fim, vou lhes apresentar o Núcleo de Alunos Brasileiros da Universidade do Algarve (NUBRA), o qual tem constantemente realizado Ciclos de Conferências e Jornadas Internacionais onde professores, pesquisadores e estudantes apresentam, por exemplo, projetos de pesquisa. Neste contexto, eventos como os mencionados acima têm contribuído para que colaborações acadêmico-científicas entre Portugal e Brasil sejam criadas. Possibilitar com que o estudante apresente o seu trabalho de pesquisa, lhe permitirá melhorar a capacidade de falar em público e, ainda, aperfeiçoar a sua pesquisa através da correção de metodologias ou, até mesmo, da interpretação de seus resultados. Incrivelmente, diversos protocolos de colaboração entre universidades portuguesas e brasileiras têm sido criados em eventos como esses. Não há como negar o papel preponderante e diferencial que os núcleos devem ter dentro do ambiente universitário. Além disso, é preciso buscar formas de gerar conhecimento para o desenvolvimento da sociedade, quer seja com palestras ou atividades práticas.
Para concluir, gostaria de dizer que em todos estes grupos, associações ou núcleos há uma preocupação constante em se formar ótimos profissionais, dando-se o suporte necessário para que eles possam construir uma carreira sólida e embasada no comprometimento e engajamento para, quando retornarem ao Brasil, toda essa formação seja aplicada no desenvolvimento social, científico e tecnológico brasileiro e mundial.
Portanto, é preciso com que haja um fortalecimento cada vez maior destes grupos tanto no que se refere a um maior apoio das universidades ou institutos em que eles estão inseridos quanto a campanhas de incentivo a atração dos estudantes, nomeadamente, brasileiros.