Na primeira semana de março, semana internacional da mulher, foi organizado na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) o Encontro Paulista de Mulheres na Matemática, para apresentar reflexões sobre a questão de gênero dentro da área da Matemática. O evento conta com a participação de dezenas de pesquisadoras renomadas na área e utiliza o Galoá Certificados para emissão dos certificados de participação e apresentação no Encontro.
Nós conversamos com uma das organizadoras, Juliana Marta, professora no Instituto de Matemática e Computação Científica (IMECC), da UNICAMP, para que ela nos contasse um pouco mais sobre os objetivos e contexto do evento.
Galoá – Para começar, pode nos contar um pouco a seu respeito, sua linha principal de pesquisa, e seus principais interesses?
Juliana Marta – Eu sou professora substituta no Departamento de Matemática do IMECC, na UNICAMP. Mas, mais do que isso, de uma forma ou de outra, estive ligada a esse Instituto praticamente todo o tempo nos últimos 13 anos, desde 2003, quando ingressei na graduação. Minha principal linha de pesquisa é a Biomatemática, com uma forte componente de Análise Numérica, uma confluência de áreas a que cheguei graças a bons encontros que tive com o professor João F. da Costa Azevedo Meyer, o Joni, e com a professora Maria Aparecida Diniz Ehrhardt, a Cheti, ambos do IMECC.
Atualmente tenho voltado minha atenção para questões do Ensino da Matemática, também, principalmente em nível superior, devido a maior proximidade e experiência.
Por qual motivo decidiram fazer um encontro de mulheres na matemática?
Eu acho que cada uma de nós, eu, a professora Anne Bronzi do IMECC, a professora Christina Brech do IME-USP e todas as outras matemáticas que se envolveram com o evento, tem uma visão singular de suas motivações. A minha, particularmente, é que eu queria, justamente, saber o que as mulheres matemáticas tem a dizer. Sobre a Matemática e sobre sua trajetória. Talvez possamos, se não por mais nada, compreender o que foi determinante para que essas mulheres fossem bem sucedidas num meio em que entre 70 e 80% dos profissionais são homens.
O evento teve outras edições? Ele é regional? Quais as perspectivas?
O Encontro Paulista teve como inspiração um evento similar organizado pela professora Carolina Araújo do IMPA, em 2015, no Rio de Janeiro. O que aconteceu foi que, também em 2015, houve o I Congresso Brasileiro de Jovens Pesquisadores em Matemática Pura e Aplicada (ICBJ) e, durante a mesa redonda, a professora Christina Brech fez uma pergunta quanto à questão da subrepresentação das mulheres na Matemática. O que se viu foi que uma parcela dos presentes à mesa, todos homens, achava que não existia tal questão. Então, conversando com o professor Marcelo Viana, na época presidente da SBM, acerca dos desdobramentos do ICBJ, ele sugeriu que entrássemos em contato com a professora Carolina Araújo. E, desse contato brotou a ideia de fazer, também em São Paulo um Encontro de Matemáticas. A expectativa é que este encontro se repita e vejamos um amadurecimento da reflexão sobre as questões das mulheres matemáticas, no futuro. No Rio, em São Paulo e, quem sabe, no Brasil de um modo geral. As mulheres matemáticas vem se unindo e se debruçando sobre sua condição mundo afora, temos links para essas iniciativas na página do evento. Por fim, em 2018 teremos o (WM)^2, o World Meeting for Women in Mathematics, em paralelo ao ICM 2018, um evento em escala global.
De maneira geral, a ciência presencia um aumento de mulheres envolvidas, desde que a senhora iniciou até o momento, observa um aumento de mulheres na sua área? A que fatores atribui isso? Qual a importância do evento que organizaram (Encontro Paulista de Mulheres na Matemática) para os pesquisadoras e pesquisadores no geral?
Eu diria que, na média, o percentual de mulheres na Matemática não mudou e permanece por volta dos 25% quando pensamos em professoras de nível universitário. Posto que as mulheres são pouco mais de 50% da população, é seguro dizer que há uma subrepresentação das mulheres na área.
Há muitas hipóteses para as razões disso, a que entretenho mais proximamente é a de que somos ensinadas desde muito jovens, que Matemática é muito difícil. Então apenas uma pequena parcela das pessoas conseguirá “ir bem na disciplina”. Além disso, a pequena parcela que resiste ao desestímulo da sociedade e decide conhecer o que realmente é Matemática ainda tem de enfrentar o preconceito de “mulher não leva jeito para matemática”.
Como nós mostramos em um infográfico publicado no dia 8 de março, a participação das mulheres na pesquisa brasileira vem crescendo consistentemente nas últimas duas décadas, mas ainda assim há muito a ser feito para equiparar a participação em algumas áreas científicas como a Matemática.