História do Currículo Lattes: O que é e por quê usar?

A Plataforma Lattes é uma base de dados virtual que hospeda os currículos de todos os pesquisadores com atividade ou que tiveram atividade no Brasil, ou seja, desde alunos de graduação até cientistas e professores com longa carreira. A plataforma cresceu tanto que além dos dados individuais, também reúne informações sobre grupos de pesquisa e instituições em um único ambiente, tornando o planejamento, solicitações e gestão de recursos mais organizado.

Isso acontece porque a Plataforma Lattes foi desenvolvida e é mantida pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), órgão ligado ao Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), um dos principais fomentadores da pesquisa brasileira.

Devido à organização dos dados que o sistema oferece, segundo o site do CNPq, a análise do Currículo Lattes também é utilizada por outros órgãos de fomento estaduais e federais para oferecer bolsas de pesquisa, como é o caso da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e outras agências.

Instituições federais e estaduais de ensino e pesquisa também avaliam os currículos em processos seletivos de pós-graduações, além da avaliação geral dos dados poder colaborar nas políticas públicas focadas em ciência, tecnologia e inovação, motivo pelo qual é tão importante que todos os pesquisadores brasileiros tenham um Currículo Lattes cadastrado e o mantenha atualizado.

Hoje em dia é bem comum que alunos de graduação sejam incentivados por seus professores a criarem suas contas na plataforma ainda em seus primeiros anos de faculdade, adiantando procedimentos no caso de, futuramente, eles desejarem começar uma pesquisa de iniciação científica ou ainda ingressarem em alguma pós-graduação, já que o Currículo Lattes exigido por agências de fomento no momento de pleitear uma bolsa e por instituições que oferecem programas de mestrado e doutorado.

Ao disponibilizar as informações sobre os pesquisadores e as instituições na internet, por meio da Plataforma Lattes, o CNPq justifica que também está agindo com transparência e confiabilidade de suas ações e demais agências fomentadoras, além de possibilitar que os currículos sejam pesquisados para promover mais intercâmbios de conhecimento e “preservar a memória da atividade de pesquisa no país”.

Se você pretende entrar ou permanecer no meio acadêmico, não esqueça de criar seu Currículo Lattes e mantê-lo atualizado.

Uma breve história sobre o Currículo Lattes

Iniciativas precursoras ao Currículo Lattes despontaram, pelo CNPq, em meados da década de 1980 com a intenção de acompanhar de forma padronizada as atividades dos cientistas com atuação no Brasil.

Essa padronização inicial era feita por um formulário padrão em papel de registro dos currículos, os quais seriam usados para avaliações curriculares e geração de estatísticas para compreender como ocorre a pesquisa científica no país, porém, o CNPq aponta que antes a busca era feita pela rede BITNET (anterior à internet brasileira) e contava com aproximadamente 30 mil currículos.

Com o passar dos anos, a tecnologia evoluiu e a forma de cadastro dos currículos também. Até que em 1999 foi lançada a Plataforma Lattes eletrônica, posicionando o Brasil como referência na área de catalogação de dados sobre pesquisadores, com o software sendo licenciado gratuitamente para outros países, como Colômbia, Chile, Argentina, Equador, Peru, Portugal e Moçambique.

César Lattes em sala de aula

Legenda: O físico César Lattes em sala de aula

Uma Homenagem à César Lattes

Como muitas pessoas associam a ideia de currículo entregue às empresas na busca de uma oportunidade com curriculum vitae, expressão latina que significa “trajetória de vida” e resume as experiências de um profissional, é possível que haja confusão sobre porque na área acadêmica preenchemos o “Currículo Lattes”, como se fosse referência a alguma expressão latina também.

Mas a verdade é que o nome dado à Plataforma e também aos currículos acadêmicos dos pesquisadores brasileiros existe em homenagem ao físico curitibano e descendente de italianos Césare Mansueto Giulio Lattes, mais conhecido como César Lattes.

Entre tantos projetos, Lattes é mais conhecido pela descoberta do méson π ou píon, uma partícula localizada entre o elétron e o próton que trouxe avanço para o conhecimento da estrutura atômica e para os estudos de radiação.

O pesquisador foi incentivado pelo físico dinamarquês Niels Bohr a ir para Berkeley, na Califórnia. Lá ele descobriu que o acelerador de partículas do Laboratório de Radiações de Berkeley tinha energia para bombardear átomos de carbono para produzir mésons π. Com isso, o físico conquistou repercussão internacional, sendo um dos brasileiros mais consagrados no mundo científico.

A homenagem de Lattes para o currículo acadêmico brasileiro mais popular não se deu somente por esse reconhecimento internacional. César Lattes também ficou conhecido como um dos incentivadores da criação do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) em 1951, hoje ligado ao MCTIC,  junto com José Leite Lopes e outras personalidades cariocas, segundo relata a professora Amélia Hamburger em artigo da Revista USP.

César Lattes também passou por diversas universidades e instituições nacionais e internacionais, firmando parcerias importantes para o Brasil na área de física, como seus projetos na estação metereológica de Chacaltaya, com cerca de 5 mil metros de altitude na Bolívia, onde estudou radiação cósmica, ou a colaboração Brasil-Japão iniciada na Universidade de São Paulo (USP) na busca por conhecimento sobre interações e emulsões nucleares, que segundo Hamburger deixou legado e a parceria dura até hoje na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), instituição onde também colaborou desde a edificação do Instituto de Física e na criação do laboratório de Síncrotron.

Lattes do lado de fora do carro indo para o Laboratório de Física Cósmica no Monte Chacaltaya, na Bolívia

Mais que um currículo: ferramentas da Plataforma Lattes

Engana-se quem imagina que a Plataforma Lattes é utilizada apenas para se ter um currículo acadêmico online. Como se trata de uma base de dados, também é possível extrair e cruzar informações.

Essas análises são possíveis porque a Plataforma oferece um serviço chamado de Lattestats, o que possibilita a filtragem de dados para compreender melhor o status quo da ciência, tecnologia e inovação brasileira.

Ter acesso a essas informações colabora em mais reflexões, pesquisas e implementação de políticas públicas na área. Você consegue acessar todos os gráficos no Painel Lattes.

A Plataforma ainda oferece o serviço Lattes Extrator para que instituições reconhecidas possam fazer uma busca mais apurada dos dados. Para utilizar essa ferramenta é necessário fazer uma solicitação formal, sendo que em documento do CNPq é alertado que o acesso é fornecido apenas para:

  • Instituição Científica, Tecnológica e de Inovação (ICT);
  • Instituição de ensino superior;
  • Agências de fomento à pesquisa – da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; e
  • Órgãos e as entidades da administração pública federal direta e indireta e as demais entidades
  • Controladas direta ou indiretamente pela União, conforme previsto no Decreto nº 8.789/2016;

Interessou-se pela riqueza de informações que se pode obter e porquê é interessante que todos os pesquisadores tenham seus currículos acadêmicos armazenados? Então não deixe de explorar a ferramenta e manter seu currículo atualizado.

Leia mais:

Referências:

AMORIN, Cristiane V.. Organização do currículo: plataforma Lattes. Pesquisa Odontológica Brasileira, São Paulo ,  v. 17, supl. 1, p. 18-22,  Maio  2003.

CNPq. Histórico.In. Memória CNPq, sd.

CNPq. Sobre a plataforma Lattes. In. Memória CNPq, sd.

CNPq. Césare Giulio Lattes. In. Memória CNPq, sd.   

HAMBURGER, Amélia. César Lattes, físico brasileiro. Revista USP, São Paulo, n.66, p. 132-138, junho/agosto 2005.

MARQUES, Alfredo. Reminiscências de César Lattes. Rev. Bras. Ensino Fís.,  São Paulo ,  v. 27, n. 3, p. 467-482,  Setembro  2005.

Equipe do Galoá science

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